sexta-feira, 29 de junho de 2007

parênteses

.... tão triste e tão séria aquela menina. tão triste e tão muda aquela menina que anda sozinha na rua vazia. tão triste e tão sério seu desamparo que encontra na realização de si a mais aguda solidão. tão triste e tão vazio o seu caminho. tão triste e tão doído o mundo em sua falta de sentido....

terça-feira, 26 de junho de 2007

um jogo de futebol (talvez uma final..)

Para Angelo

- MEEEENGOOOO, MEEENGOOO – grita um vizinho da janela
"parece que está rolando um jogo de futebol" - penso

- MENGO, POOORRA! – exalta-se o vizinho pela janela.
"parece que o flamengo está jogando" - eu penso

- MEENGOOOUUU! UUUUHHUUU! BUM! BUM! BUM! – berros e fogos de artifício
“deve ter sido um gol” - levanto a sobrancelha assustada com a barulheira

- ÔO OOO OO OOO OO OOO MENGÔ! – em uníssono, os vizinhos pela janela
“ainda não acabou essa merda desse jogo?” - me irrito com a agitação

- AEEEE MENGÃO! AEEE MENGÃO! – ecos de berros masculinos lá da rua
“por que tanto barulho? flamengo contra quem? será um jogo importante?” - por uma piscada de segundo aparece um menosprezado interesse

BUM! BUM! BUM! - fogos de artifício, cornetas, buzinas, um tumulto desmedido...

não tô nem aí...

segunda-feira, 25 de junho de 2007

a flor que contrariava poetas

No pátio do meu colégio tinha uma árvore que dava flores.
As flores desabrochavam no verão.
As flores cheiravam mal.

Fediam como fede o esgoto.
No verão tudo então cheirava à fossa.
E a florada entupia meu nariz.
E o calor ardia a pele.
Tudo era seco, quente e fedorento.

Eu não gostava de ir para o colégio no verão.


sábado, 23 de junho de 2007

ela não fuma mais*

certo dia se deu conta de que não gostava mais de fumar
ela fumava muito mas não fuma mais
percebeu que andava fumando muito pouco
ela é tão jovem
talvez fumasse só pelo hábito de fumar.

ela gosta dessa moda de não fumar
ela gostou da idéia de não fumar
e ela disse

hoje em dia acendem poucos isqueiros na platéia
porque pouca gente fuma
ela pensou
hoje em dia acendem poucos isqueiros na platéia
porque pouca gente fuma

e todo mundo tem celular
hoje em dia acendem celulares na platéia

ela é tão jovem
nem tanto assim
e tem saudade do tempo em que muita gente tinha isqueiro
porque acha muito estranho celulares na platéia...

*parte da letra da música Ela ela, de Caetano Veloso e Arto Lindsay

quinta-feira, 21 de junho de 2007

mudar

cada vez mais, ouvir menos
cada vez mais, falar menos
cada vez mais, ver menos
cada vez menos, sentir mais


os mutantes são demais

mas eu não gosto da metamorfose ambulante de raul seixas.
ou
antes ser um mutante do que uma metamorfose ambulante.

terça-feira, 19 de junho de 2007

eu sou uma contradição

garage, rua ceará, show do azul limão. banda de metal da década de 80. rock n roll em português. casa cheia. fico contente de ver todos cantando juntos, apesar de desconhecer tudo. intervalo. vou beber água no bar. chega um rapaz e me pede o isqueiro. dou. devolve me perguntando se é sério mesmo, se eu estou bebendo água. é, é água mesmo (por que todo mundo se espanta?). O espanto foi sincero mas ajudou a iniciar uma conversa. conversa de rua ceará é sempre a mesma. bandas, músicas, discos, shows e causos sensacionais da vida rock n roll. é bom. de repente no entanto ele me diz. “mas vem cá.... como é isso? você que gosta tanto assim de darkthrone, é apaixonada por joão gilberto??!? isso soa estranho!” e então me lança a pergunta: “qual a ligação que existe entre darkthrone e joão gilberto?”
(((cadê a pausa pra pensar?)))
na hora gaguejei qualquer coisa, mas nada respondeu.. fiquei intrigada e saí da conversa pensativa. ele saiu sem o que queria. puxa.. foi mal.

“qual é a ligação que existe entre darkthrone e joão gilberto?” a pergunta reverberou por semanas. me seguia no chuveiro, no ônibus, antes de dormir e foi parar na minha análise. é que eu suspeitava que essa resposta dizia muito de mim, talvez dissesse tudo de mim, talvez me dissesse inteira. tentei achar o elo por todas as partes e seguiam-se listas comparativas por ritmo, melodia, estilo, cor, gênero, número, grau. tudo isso porém não deu em nada, o elo parecia mesmo perdido.

rompeu-se um momento. foi então que eu descobri. é o óbvio que está na cara....
A resposta é Clara.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

fundição regressa

show do caê na fodeção progresso, ele mesmo disse. cê gosta de tudo isso? cê quer tudo isso? cê viu tudo isso? se tudo fosse como era ontem talvez. mas hoje tudo parece diferente.
show do motorhead na fundição progresso, é assim. toca orgasmatron! toca orgasmatron! ficou perdido o pedido. desde mil novecentos e noventa e seis.
show do slayer na fundição progresso, progresso? chovia muito, chovia sangue. que deixou marcado o beijo molhado. até que a morte os separe.
show do los hermanos na fundição progresso. ah, é assim? - o que você está fazendo aqui? - eu ganhei o ingresso. não tente disfarçar... este é o seu bloco do eu sozinho.

sábado, 16 de junho de 2007

eis a questão

e como se chama o couro cabeludo dos carecas?


terça-feira, 12 de junho de 2007

para ler com pressa

Acordei sem ter dormido. Espantei no meio da manhã com a voz da empregada berrando palavras desconexas. ‘Ela desceu já, foi levar o remédio para a senhora’. De susto, achei tudo muito estranho e fui ver o que era. Minha amiga tinha descido as 9 da manhã para dar um remédio a uma senhora. O tom tão banal da empregada me fez achar que eu estava sonhando diante de tamanha falta de sentido. Era melhor voltar para a cama e achar que tinha sido tudo mesmo um sonho. Voltei e não sonhei. O despertador insiste em se vingar de mim todas as manhãs. Dessa vez não foi diferente. Eu não tinha mais minutos para negociar. Espremi os olhos e pulei da cama direto para o chuveiro. As palavras passavam por mim com tanta pressa que quando me dei conta tinha fechado a torneira e expressava um olhar ansioso. Passei sabonete? Era melhor tentar de novo. Relaxa, relaxa, está tudo certo. A hora voava e meu ritmo acompanhava na contramão. Água, café, torradas, roupa, bolsa, tudo aqui? Vamos. Lá fora, um inferno. Sol, gente, carros, ai! Como o ponto de ônibus fica longe.... Segui meus passos mecanizados, peguei o ônibus e cheguei, finalmente. Para mim já seria o suficiente. Posso voltar para a casa? Lá, o texto a ser lido em voz alta para todos. Eu? (Merda!) Blá blá blá, expressão positiva e fim. Cartão de ponto batido. Segunda etapa. Resoluções burocráticas. Nome, cpf, senha, loguin, meu, seu, cadê fulano, liga para cicrano. O sistema caiu. Tenta de novo. Nome, cpf, senha, loguin, meu, seu, cadê fulano, liga para cicrano. O sistema caiu. AAAAHHHHHHHH. Ela berrou mesmo, no meio da repartição, um berro de desespero que fez rir todo mundo. Eu gargalhei. Senti uma fraqueza, lembrei que não tinha almoçado. É hora da reunião do grupo, só falta você. Já venho, só vou pegar um cafezinho. Blá, blá, blá, ihhh, preciso ir embora! Tenho um atendimento para fazer na cinelândia. Saí correndo, nem paguei o cafezinho. O ônibus me esperava no ponto, pelo menos isso. Ando mais um pouco, como o ponto de ônibus fica longe.... Sinto minha calça escorrendo pelas minhas pernas. Emagreci! O dia inteiro sem comer nada. Comprei um biscoito para comer na espera de minha paciente. Não deu, ela já estava lá. Cheguei atrasada? Meu deus, a hora voa.. Vamos. Relaxa, relaxa, está tudo certo. Na saída, a chave ainda na fechadura o ascensorista esperava por mim. Gentileza. Agora posso finalmente comer meu biscoitinho chinfrim. Caminhando e comendo e seguindo a pressão. Ah! O banco!
Até que finalmente te encontro. Pensava em desabar tudo isso sobre você, mas antes precisava te olhar, te dar um beijo e perguntar como foi o seu dia. Muito trabalho, e o seu? Posso contar? Seus ouvidos eram todos meus. Eu queria esse momento para sempre. Mas tinha a aula, tinha ainda uma conta para pagar, tinha ainda uma inscrição para fazer na Internet, tinha ainda os emails a passar. Tinha ainda que comer! Dessa vez o ônibus não me esperava no ponto, que bom, posso abraçar você mais um pouquinho....
Conta paga, inscrição feita, emails passados. Almoço-lanche-janta-ceia em frente à televisão. Ah! Agora posso fumar um cigarrinho.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

o início

Hoje finalmente inauguro meu blog. Finalmente inauguro. No fim, um começo. Foi preciso um fim para começar isso aqui. Que começa assim, sem mais, sem menos. Só para começar. Não sei no que vai dar, não sei o que pretendo, não sei se consigo, nem se sei escrever. Mas tive que dar conta dessa coisa que me coça, dessa vontade de fazer alguma coisa inspirada na liberdade. Não presto conta para nada mais. E assim eu vou e os convido. É bom ter companhias quando se sabe completamente só.