sexta-feira, 27 de julho de 2007

silêncio

assim vou seguindo. o ônibus, as placas, as dicas, a intuição. adiante, num rumo frágil, de sustentação movediça. às vezes me pergunto o que estou fazendo da minha vida. onde a casa, o trabalho, os planos, tudo adiante parece longe, muito longe de mim e, pior, morno e desbotado. nesta hora a boca costura um silêncio de morte. mas a morte não vem tão fácil assim e resta um resto, uma sobra opaca e sem gosto, tipo comida requentada no terceiro dia. e assim mesmo vou seguindo, sem sorriso, sem pranto e sem apetite, e tudo estaria muito sem graça não fosse o dia seguinte. o dia seguinte tem a mágica de me fazer levantar da cama e olhar o céu. e ainda que eu saiba que tudo não vai ser diferente, o dia seguinte diz que sim, diz que eu vou ganhar na loteria e ter muito dinheiro para fazer um monte de coisas legais demais na vida. e eu posso ficar horas pensando no que eu vou fazer com tanto dinheiro, contabilizando gastos e prazeres felizes para sempre. mas aí eu me surpreendo pensando que eu gostaria que a vida fosse exatamente o que ela já é, só que um pouquinho mais luxuosa, e eu penso que eu nem preciso de tanto dinheiro assim, que eu preciso de pouco, de poucas coisas, que eu preciso na verdade daquilo que de certa forma eu já tenho. e então a casa, o trabalho, os planos e tudo adiante parece perto, muito perto de mim. e assim a boca se fecha num silêncio que parece eterno.
......

Um comentário:

Anônimo disse...

A invasão do espírito Balzac novamente. O sair da adolescência é quase a perda do apolíneo da vida. Nem apolíneo, nem dionisíaco, é um nem...mas ainda sem rancor.